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sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Final de ano - ponto de situação



Dezembro de 2014, contrariamente ao ano passado, o tempo é de alguma escassez na floração aqui em S. Miguel. A erva azeda (trevo amarelo) teima em não florir embora já haja pontualmente aqui e ali algumas flores. As nespereiras já praticamente não possuem flores. A erva-abelha está em quase todas as zonas despida de vigor. O Eucalipto está em flor mas não abrange todas as zonas da ilha. Resta a Bânccia que tem tido uma floração bastante perlongada no tempo e que tem feito as abelhas trabalharem com algum afinco. 
Flor de Eucalipto

Pontualmente também tem aparecido precocemente algumas florações de início de ano mas ainda nada de relevante. As abelhas hibridas de predominância amarela tem trabalhado bem enquanto que as escuras parecem adormecidas. Hoje, curioso com a inercia de uma das minhas colonias de abelha escura (predominantemente iberiensis) abri a colmeia, só para ver que no interior havia muitas abelhas a cobrir os 10Q de ninho e boas reservas de mel. Trabalhar é que “tá quieto” nem se dão ao trabalho de puxar ceras embora muitas vezes a temperatura esteja à volta dos 15c. Ao lado, outra colmeia de abelhas escuras, a que costumava ser mais forte nos últimos tempos deste meu apiário, embora se note abelhas à entrada, trabalhar também é muito pouco. Já todas as colmeias de predominância amarelas (lingústica) têm-me agradado pelo trabalho no exterior e desenvolvimento no interior dos ninhos. É de lamentar que não tenha havido um trabalho de apuramento das raças existentes na ilha, sem dúvida que hoje um apicultor teria o seu trabalho muito mais recompensado a nível de produtividades. Hoje, fazer seleção de rainhas com “raças” hibridas é quase como dar tiros no escuro, nunca se sabe bem como serão as filhas, se serão mansas ou agressivas, se serão produtivas ou higiénicas, enfim, quase um verdadeiro totoloto.

Em janeiro, começarei a fortalecer com xarope as colónias produtivas mais debilitadas a ver se este será um bom ano de incenso.
Boa api.

sábado, 13 de dezembro de 2014

Transumância – sim ou não


A transumância assume para alguns apicultores semiprofissionais e para profissionais uma importância de relevo. Embora alguns apicultores de dimensão considerável optam por não fazer transumância, a verdade é que a maioria aposta nesta vertente que pode se tornar num fator muito lucrativo.






Os benefícios

Na Califórnia existem plantações de amendoeiras de aproximadamente 47 mil hectares de área que mobiliza quase um milhão de colmeias para a sua polinização, ou seja quase metade de todas as colmeias existentes nos Estados Unidos. Se todos os apicultores portugueses fossem chamados a polinizar as plantações de amendoeiras na Califórnia com todas as suas colmeias, ainda seriam necessários outro tanto de colmeias para conseguir satisfazer essa demanda. Um apicultor que coloque 2000 colmeias a polinizar uma plantação de amendoeiras pode lucrar algo como 250 mil euros, ou seja, poderia o apicultor viver só dessa polinização “descansando” o resto do ano.
Campo de amendoeiras na Califórnia


Na Europa embora não exista grandes concentrações de áreas profissionalmente polinizáveis como nos Estados Unidos, já existem muitas monoculturas que contratam os serviços das abelhas. Em Portugal existem imensos apicultores que fazem transumância embora a maioria não receba por deslocar suas abelhas, certo é que as produções de mel podem triplicar ou até quadruplicar.

Nos Açores, a transumância que é praticada sobretudo para zonas de “conforto”, ou seja, o apicultor muitas vezes desloca suas colónias para apiários mais próximos de sua habitação na época baixa e redeslocando essas colónias para zonas de boa floração como por exemplo para o incenso. (deslocar um núcleo para uma estufa de ananás conta como transumância?)

Os custos

Tudo parece um mar de rosas até aqui: lucro monetário, altas produtividades etc. mas falta falar da parte dos malefícios. Transportar colmeias de uma zona para outra zona acarreta (como é que se chama aquilo?) custos! (é isso). O primeiro custo direto é mão-de-obra necessária para tais operações. Hoje utiliza-se muito as gruas mecânicas que diminuem muito a necessidade de mão-de-obra mas esta em nunca pode ser 100% dispensada por mais eficiente que possa ser a grua. Um outro custo direto destas operações é o aluguer ou, no mínimo, os combustíveis para as carrinhas ou camiões de transporte de colmeias. Estes são os custos diretos e óbvios da transumância, mas não se fica por aqui.

Um grande custo que muitas vezes é desconsiderado pelos apicultores que se iniciam na arte de transumar, é o número total de perda de colónias devido à deslocação. Isto deve-se em parte ao transporte das colmeias onde muitas vezes as abelhas não têm o devido arejamento, ou à rainha que morre esmagada, ou simplesmente ao stress do transporte que causa inúmeras baixas. É frequente observar no dia imediatamente a seguir ao assentamento das colmeias, muitas abelhas mortas em frente à colmeia. 
Um outro custo indireto da transumância é a qualidade da alimentação das colónias. Numa monocultura é frequente as abelhas ficarem desnutridas pela falta de variedade de alimento, mais especificamente no pólen. O pólen das flores é diferente em cada tipo de flor. Numa monocultura de girassol por exemplo, a variedade de pólen é nula. Ora, isso equivaleria para nós humanos que passássemos a comer simplesmente maçãs todos os dias. Embora seja um alimento saudável, viver só de maçãs vai nos trazer certamente muitos problemas de carências nutricionais. Nas abelhas, cuja esperança de vida se situa nos 45 dias nas épocas de maior atividade, equivale a viver alguns anos só de “maçãs”. O resultado disso são colmeias fracas com abelhas já a emergirem dos alvéolos debilitadas e vulneráveis a doenças e à morte precoce. O famoso fenómeno CCD tem sido atribuído por muitos pelo recurso excessivo à transumância. Um outro custo da transumância para monoculturas agrícolas, è a exposição das abelhas a agrotóxicos nefastos. Ou seja, para além das abelhas terem de viver só de “maçãs” estas “maçãs” ainda vêm com uma gota de veneno.

 A nível mundial muito se tem debatido sobre os efeitos nefastos da agricultura intensiva e mais cedo ou tarde, isto terá reflexão direta na sua zona de residência se é que já não se repercute. Não é sem motivo que um dos maiores apicultores dos Estados Unidos, Mike Palmer, com cerca de 15 mil colónias, deixou de recorrer à transumância para se tornar num apicultor fixista.

Nos Açores a questão de transumar ou não, não creio que seja uma questão central para o sucesso na apicultura. Mas precisamente por isso, os apicultores açorianos tem uma “obrigação” acrescida de escolher bem as localizações para seus apiários. O bom desempenho da sua apicultura está intimidante relacionado com este fator.

Uma excelente apicultura